A riqueza imagística e formal de sua
lírica fez de Victor Hugo o maior poeta romântico francês, também
principal mentor do romantismo em seu país e um de seus mais importantes
prosadores. Como político, evoluiu da postura conservadora e
monarquista para o liberalismo reformista e os ideais revolucionários.
Victor-Marie Hugo nasceu em Besançon
em 26 de fevereiro de 1802. Filho do general napoleônico
Joseph-Léopold-Sigisbert Hugo, passou na juventude temporadas na Itália e
na Espanha. Estudou direito em Paris e, antes dos 18 anos, escreveu o
romance Bug-Jargal, sobre uma revolta de negros em São Domingos. Fundou e
dirigiu uma revista, Conservateur Littéraire (1819-1821). Estreou com
Odes et poésies diverses (1822), obra que lhe valeu uma pensão de Luís
XVIII. Pouco depois casou-se com Adèle Foucher.
Han d'Islande, de 1823, é tido como
seu primeiro romance (já que Bug-Jargal só saiu em 1826) e a partir
desse momento começou a se aproximar das idéias românticas. Cromwell
(1827), sua primeira peça teatral, era longa e impossível de encenar. O
prefácio da obra, contudo, projetou Hugo como líder do movimento
romântico na França. Nele, opondo-se ao classicismo no teatro, o autor
propunha o abandono das três unidades dramáticas e a mistura dos
gêneros, com a coexistência do sublime e o grotesco. Seguiram-se as
vaias ao drama Amy Robsart (1828) e o veto da censura à peça Marion
Delorme (1829). Compensou tais frustrações o sucesso dos poemas de Les
Orientales (1829; As orientais), do romance Le Dernier Jour d'un
condamné (1829; O último dia de um condenado), apelo ao fim da pena de
morte, e do drama Hernani (1830), exaltação do herói romântico, em luta
contra a sociedade. Hernani suscitou pugilatos na platéia enquanto
esteve em cartaz.
Victor Hugo apoiou a revolução de
julho de 1830 e a ascensão da monarquia constitucional de Luís Filipe.
Nesse período, muito fecundo apesar da vida conjugal infeliz, publicou
Feuilles d'automne (1831; Folhas de outono), de poemas intimistas;
Notre-Dame de Paris (1831; Nossa Senhora de Paris), romance medievalista
centrado na tragédia do corcunda Quasímodo e da cigana Esmeralda; peças
como Le Roi s'amuse (1832; O rei se diverte); as coletâneas poéticas
Chants du crépuscule (1835; Cantos do crepúsculo) e Voix intérieures
(1837; Vozes interiores); o drama Ruy Blas (1838) e nova coletânea de
poemas, Les Rayons et les ombres (1840; Luzes e sombras). Em 1841, foi
eleito para a Academia Francesa.
A esse tempo, Victor Hugo prosseguia
sua ligação, iniciada em 1833, com a jovem atriz Juliette Drouet, que a
ele se devotaria até morrer, dois anos antes do poeta. Em 1843
iniciou-se uma fase dolorosa na vida de Hugo: abandonou o teatro, ante o
fracasso da peça Les Burgraves, e perdeu a filha mais velha,
Léopoldine, afogada por acidente no Sena, junto com o marido. Após a
revolução de 1848, Hugo tornou-se republicano e passou a combater
Napoleão III. O golpe de 1851 levou-o ao exílio, definido por ele como
"uma espécie de longa insônia" que duraria quase vinte anos, 15 dos
quais na ilha inglesa de Guernsey.
Foi esse, no entanto, o período mais
fértil de sua vida literária. Em poesia, destacam-se Les Châtiments
(1853; Os castigos), de sarcásticos versos políticos; Les Contemplations
(1856; As contemplações), com o melhor de sua lírica; a primeira série
do ciclo épico La Légende des siècles (1859; A lenda dos séculos); e
Chansons des rues et des bois (1865; Canções das ruas e dos bosques). Em
prosa, são dessa época seus melhores romances, que constituem propostas
de reforma social: Les Misérables (1862; Os miseráveis), Les
Travailleurs de la mer (1866; Os trabalhadores do mar) e L'Homme qui rit
(1869; O homem que ri).
Anistiado por Napoleão III em 1859,
Hugo não quis deixar Guernsey e só retornou à França em 1870. Recebido
em triunfo, elegeu-se deputado, cargo ao qual renunciou depois. Não
aderiu à Comuna de Paris mas, em 1876, como senador, fez vigorosa defesa
da anistia aos communards. Vivia então a plenitude de sua glória
nacional e internacional. Salientam-se, nessa época, os poemas de
L'Année terrible (1872; O ano terrível), o romance Quatre-ving-treize
(1874; Noventa e três), a segunda série de La Légende des siècles
(1877-1883) e L'Art d'être grand-père (1877; A arte de ser avô).
Victor Hugo influenciou fortemente a
literatura ocidental. Entre seus seguidores no Brasil, o mais célebre é
Castro Alves. Morreu em Paris, em 22 de maio de 1885.
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