O legado artístico de Michelangelo
constitui uma demonstração de gênio. A ele se devem obras imortais da
escultura, como o "Davi" e o "Moisés"; da arquitetura, como a cúpula da
basílica de São Pedro; e da pintura, como os afrescos da capela Sistina.
O humanismo renascentista, de que o genial artista constitui uma figura
paradigmática, levou-o também a escrever uma notável obra literária,
tanto em prosa como em verso.
Michelangelo di Lodovico
Buonarroti Simoni nasceu em 6 de março de 1475 em Caprese, localidade
próxima à cidade toscana de Arezzo, Itália. Quando ainda era criança,
sua família
mudou-se para Florença, onde, em 1488, entrou como aluno para o ateliê
do pintor Domenico Ghirlandaio, com quem aprendeu as técnicas de afresco
e painel. No ano seguinte, graças ao mecenato de Lourenço o Magnífico,
passou a estudar escultura com Bertoldo di Giovanni no jardim onde a
família senhorial de Florença conservava uma valiosa coleção de
esculturas antigas.
Após a morte de Lourenço, em 1492, e
pouco antes da expulsão da família Medici pelo pregador e reformador
religioso Girolamo Savonarola, Michelangelo fugiu para Bolonha, onde,
sob a influência de Jacopo della Quercia, esculpiu três estátuas para o
túmulo de são Domingos. De volta a Florença, esculpiu em madeira a
"Crucificação" (autenticada somente em 1965), que doou a uma igreja em
agradecimento por lhe terem permitido estudar os cadáveres ali
conservados.
Em 1496 mudou-se para Roma, onde
esculpiu "Baco", antes de voltar-se para a temática de inspiração
religiosa que dominaria sua arte a partir de 1498. Sua grande obra do
período é a "Pietà" de mármore que se encontra na basílica de São Pedro,
em Roma, na qual a cena trágica contrasta com a serenidade do
juveníssimo rosto da Virgem.
Retornou a Florença e, em 1501,
recebeu o encargo de realizar as 15 figuras da capela Piccolomini da
catedral de Siena e o colossal "Davi" de mármore, concluído em 1504.
Essa estátua, hoje na Academia de Belas-Artes de Florença, veio a
converter-se na encarnação do espírito e da força da cidade. No mesmo
ano, o artista começou a pintar o afresco "Batalha de Cascina" para a
sala do conselho do Palazzo Vecchio florentino. Essa grande pintura,
posteriormente destruída, suscitou certa rivalidade entre Michelangelo e
Leonardo da Vinci, que estava pintando "A batalha de Anghiari" na
parede oposta.
O papa Júlio II chamou o já
célebre gênio toscano a Roma, em 1505, para encarregá-lo de um grande
mausoléu com mais de quarenta figuras em tamanho natural. O projeto,
que não chegou a ser concluído, acarretou muitos problemas para
Michelangelo, desde assistência inadequada na execução do projeto a
falta de pagamento. O escultor desentendeu-se então com o papa e fugiu
de Roma. Em Florença, Piero Solderini convenceu-o a desculpar-se. Júlio
II lhe encomendou então uma estátua em bronze para a igreja de São
Petrônio, concluída em 1508. Nesse mesmo ano, Michelangelo recebeu o
primeiro pagamento do papa para iniciar a ampliação da capela Sistina,
cujos afrescos pintou até 1512. Embora tenha trabalhado como pintor a
contragosto, pois preferia a escultura, realizou na capela Sistina
afrescos tidos como a expressão máxima da arte pictórica do
Renascimento.
Em 1513 o artista finalmente
conseguiu renegociar o contrato do mausoléu com os herdeiros de Júlio
II. O projeto foi reduzido e Michelangelo idealizou para o sepulcro sua
célebre estátua "Moisés", de mármore, e duas figuras torturadas de
escravos. Os Medici haviam retomado o poder em Florença em 1512, e os
papas Leão X e Clemente VII, membros dessa família, encarregaram
Michelangelo de vários projetos a serem realizados em Florença, onde o
artista residiu ocasionalmente entre 1514 e 1534. Em 1520, Michelangelo
comprometeu-se a projetar uma capela mortuária na igreja de São
Lourenço, que deveria abrigar os sepulcros da família Medici e, em 1524,
Clemente VII encarregou-o do projeto da Biblioteca Laurenziana.
No mausoléu dos Medici, as estátuas
de Juliano e Lourenço o Magnífico, dispostas em nichos sobre as tumbas,
representaram um novo ponto de partida no campo da escultura funerária.
Sob elas, Michelangelo acrescentou quatro figuras em mármore que
representam o mundo terreno em gradações do dia: "Aurora", "Dia",
"Crepúsculo" e "Noite". Também construiu o recinto solene da capela que,
apesar da extrema simplicidade das linhas arquitetônicas, é para muitos
a maior obra do artista.
No período republicano que se seguiu à
queda dos Medici, Michelangelo colaborou ativamente na vida pública
florentina e projetou a fortificação da cidade contra os ataques dos
exércitos papal e imperial. Derrotada Florença, e com os Medici de novo
no poder, o artista concluiu a obra do sepulcro. Em 1534, nomeado pelo
papa Paulo III escultor, pintor e arquiteto oficial do Vaticano, fixou
residência definitiva em Roma.
Entre 1536 e 1541, realizou no
altar da capela Sistina o grande afresco "Juízo final". A gigantesca
composição aparece dominada pela vigorosa figura de Cristo que, como
juiz universal, ordena a salvação dos bem-aventurados e o castigo dos
pecadores. A obra reflete de forma dramática as inquietudes espirituais
do já idoso Michelangelo. Em seus últimos anos de vida, os encargos e projetos
do artista foram principalmente obras de arquitetura. A partir de 1546,
criou as janelas do segundo andar e a grande ante-sala do Palazzo
Farnese, em Roma. Em 1538, já tinha transferido a estátua antiga do
imperador Marco Aurélio para o centro da praça do Capitólio, que ele
reurbanizou. Entre 1561 e 1564 construiu, dentro das ruínas das termas
de Diocleciano, a grande igreja Santa Maria degli Angeli. A partir de
1547, dirigiu os trabalhos da basílica de São Pedro; a grande cúpula da
basílica é de sua autoria. Entre as esculturas de seus últimos anos,
destaca-se a "Pietà Rondanini".
Alternou o trabalho
em outras áreas com a criação de uma obra poética de grande
sensibilidade, escrita a partir de 1530. O conjunto de seus textos, com
justiça caracterizados como uma "biografia espiritual", reúne mais de
300 sonetos, madrigais e outros tipos de poemas, inclusive fragmentos
inacabados. Celebrado como grande personalidade artística de seu tempo,
Michelangelo morreu em Roma, em 18 de fevereiro de 1564, aos 88 anos de
idade.
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